«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho» E se algum ministro não tivesse percebido que o desafio de José Saramago era só uma provocação? E se já não tivéssemos nada a perder? E se perdêssemos o medo? E se encontrássemos, num segredo antigo ou na breve coragem do momento, a coragem para mudar tudo, virar o jogo e começar de novo? E se não fossemos os únicos?
Esse ministro...
Nervoso como uma fera enjaulada, o ministro demissionário espera o jornalista, seu antigo aluno. Será a sua última entrevista, a derradeira oportunidade para se justificar perante o país que o viu nascer. Mas entre a culpa e a redenção levantam-se obstáculos formidáveis: um jornalista imprevisível, a sombra do verdadeiro poder e a luta de um povo inteiro. Rapidamente a entrevista deixa de o ser, exaltam-se os ânimos, o entrevistador passa a entrevistado, trocam-se acusações e um terrível segredo ameaça ser revelado.
“Homem Morto não Chora” é o primeiro original da equipa que levou Marx na Baixa a mais de 3000 espectadores em mais de 20 cidades e também ao Brasil. Com encenação de Mafalda Santos e actuações de André Levy e André Albuquerque, Homem Morto não Chora é o original mais antecipado do teatro político português. Comédia de humor ácido como o ar democraticamente rarefeito que Portugal respira, as actuações de “Homem Morto não Chora” destilam a tensão aguda entre duas personagens que, malgrado a ansiedade de se reencontrarem na humanidade comum, não podem habitar o mesmo espaço ético e olham-se, incomunicados, de classes irreconciliáveis.
“Homem morto não chora” é uma peça de teatro sobre a corrupção sem a demagogia, um espectáculo político único, porque os políticos não são todos iguais, mas é também um elogio à coragem e à dignidade da verdade, cujo mérito é levar-nos dos bastidores da corrupção passiva para a linha da frente da resistência activa. Num momento em que o descrédito dos governos e das instituições atinge a embriaguez do opróbrio, “Homem Morto não Chora” é um urgente ensaio sobre a nossa lucidez colectiva, que vem soprar actualidade nos palcos e esperança na plateia.
Pelo caminho, fica uma inquietante discussão sobre o estado de coisas e as coisas do Estado, que enquanto as máscaras vão caindo e os telefones tocam, nos pergunta se a corrupção é intrínseca à política ou se a culpa é do capitalismo; se vale a pena lutar ou se, como dizia Unamuno, somos um povo suicida. E afinal de contas, vale a pena defender a esperança? Obviamente que sim, responde "Homem Morto não Chora". E que tempos são estes, já Brecht perguntava, em que é necessário defender o óbvio? Porque em Portugal o único incorruptível é o povo português, é para ele este espectáculo surpreendente.
A caminho dos palcos portugueses chega esta peça ousada e arrebatadora, que promete revolucionar o público e pular a cínica fronteira onde acaba a política e começa a arte. É por isso que “Homem Morto não Chora” não nos deixa indiferentes, porque os seus propósitos não se esgotam no palco nem o seu efeito se extingue quando cai o pano. O poeta Paul Valèry uma vez escreveu que uma obra de arte nunca se acaba, abandona-se. E “Homem Morto não Chora” não acaba aqui.
Sobre o promotor
Não Matem o Mensageiro é um grupo de teatro político nascido formalmente em 2015 na sequência do enorme sucesso de “Marx na Baixa”, a adaptação portuguesa de “Marx in Soho”, do dramaturgo norte-americano Howard Zinn. Vista por mais de 3000 espectadores em 14 palcos de norte a sul do país e também no Brasil, “Marx na Baixa” foi elencada como uma das melhores obras teatrais do ano 2014 e bendita pela crítica como “genial”, “brilhante” e “impecável”.
Com o propósito declarado de dar continuidade ao trabalho realizado, Não Matem o Mensageiro reivindica por usucapião a sua parte da herança do teatro português de denúncia e protesto. Com uma equipa de profissionais que inclui os actores André Levy e André Albuquerque, a encenadora Mafalda Santos, o técnico João Barreiros e o jornalista e escritor António Santos, Não Matem o Mensageiro pretende abrir uma corrente de ar no panorama teatral português. Mas Não Matem o Mensageiro: nós somos só o som. De quando salta a rolha. Que nos tapava a garganta.
Currículos:
Mafalda Santos. Licenciada (2005) em Teatro na vertente Formação de Actores e Encenadores pela Escola Superior de Teatro e Cinema, trabalhou com encenadores como Rogério de Carvalho, Carlos Avilez e José Wallenstein. Tem desenvolvido projectos como encenadora e dramaturga, dos quais se destacam as peças "Marx na Baixa" de Howard Zinn, no Teatro A Barraca, "À Espera de Gorete" da sua autoria, no Teatro da Trindade, "Anfitrião", de Plauto, no Auditório Carlos Paredes, entre outras. Trabalha como actriz em projectos televisivos, entre os quais "Conta-me como foi", "Laços de Sangue" e "37". Foi actriz e argumentista residente do programa “5 para a Meia-Noite”, com apresentação de Nuno Markl.
André Levy. Doutorado em Biologia (2004), começou num teatro comunitário nos EUA, onde interpretou papéis em peças de Shakespeare, musicais, infantis e teatro de improviso. Regressado a Portugal, tem actuado em peças de Cristina Carvalhal (Cosmos, 2005; Ibsen, 2013), dos Primeiros Sintomas (Nunca Terra, 2005; Timbuktu, 2006), e Teatro da Politécnica (After Darwin, 2007). Em 2012 fez várias formações de teatro de improviso com Os Improváveis. Em 2014, interpretou o papel de Karl Marx no monólogo “Marx na Baixa”.
André Albuquerque. Licenciado em Teatro - Actores, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, estreou-se profissionalmente (2006). Entre os vários trabalhos realizados, destacam-se as participações em "A Mãe", de Bertolt Brecht, com encenação de Joaquim Benite (2009), em "O Luto vai bem com Electra", de Eugene O'Neill, com encenação de Rogério de Carvalho (2010), em "O Mercador de Veneza", de Shakespeare, com encenação de Ricardo Pais (2012) e em "Zarabadim", de José Fanha, com encenação de Paulo Oom (2013). Conta com algumas participações em telenovelas e séries, e estreou-se no trabalho de dobragens em 2014.
Orçamento e Calendarização
Com estreia marcada para Março de 2016 e sem quaisquer apoios públicos, a possibilidade de concretizar esta peça de teatro depende da solidariedade de todos.
Precisamos de, até Fevereiro, construir o cenário, preparar o figurino e garantir a compra de material de divulgação.
Preço do bilhete: 5/8 euros (de acordo com as condições de cada sala de espectáculo)
Espectáculo itinerante com estreia marcada para dia 24 de Março, no Teatro Extremo, em Almada.
Galeria de Imagens
Não Matem o Mensageiro
Vladimir Lénine vem a Portugal! Ajuda-nos a pagar o bilhete
Como já contámos com a tua solidariedade no passado, convidamos-te agora a apoiar a próxima peça de teatro da Associação Não Matem o Mensageiro: A Última Viagem de Lénine, uma homenagem à Revolução de Outubro (que em breve cumpre 100 anos) e ao velho Ilitch.
Mais informação aqui:
http://ppl.com.pt/pt/prj/trazer-lenine-portugal
Um abraço amigo,
Não Matem o Mensageiro
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