Esta história será passada nos Escanchados, Aldeia das Amoreiras e arredores (Alentejo). Os principais protagonistas serão os meus avós. Ao mesmo tempo que é sobre quem teve de deixar esta terra, é sobre esperança e regresso às origens.
De quem é esta terra?
Fui atrás.
Este documentário pretende fazer uma contextualização histórica sobre o Monte dos Escanchados: qual a sua história, quem por lá passou, o que por lá aconteceu ao longo dos anos e como chegou até à minha família e à vida que ele tem na atualidade. O Alentejo que se caracteriza por ser um território desertificado, em grande parte devido à emigração de quase toda uma geração que saiu das aldeias para as cidades, tem ganho nos últimos anos novos habitantes, muitos deles de outras nacionalidades, para os quais também é importante que se preserve e se conheça a cultura/ tradições das pessoas e dos sitios onde escolheram viver.
O documentário será gravado ao longo de um ano, onde se poderá viver as diferentes estações do ano no Alentejo e quais as atividades (tiração de cortiça, por exemplo) e alterações (algumas delas climáticas) que vão ocorrendo ao longo desse tempo, promovendo uma sensação mais imersiva e sensorial daquele lugar, mostrando o papel essencial da Natureza na nossa vida. Os protagonistas principais serão os meus avós maternos. A grande entrevista de retrato será dada pela minha avó Delfina com 82 anos, numa abordagem mais honesta e autêntica da sua história de vida. O meu avô Bernardo, que apesar de invisível, estará presente através das gravações do seu cante ao baldão, do seu toque de viola campaniça, das suas histórias e do que sobre ele nos possam contar. Será uma história de família e das diferentes gerações (incluindo as mais novas) que de uma forma ou de outra retornam agora ao Alentejo.
Adjacente a isso pretende-se entrevistar várias pessoas (família, amigos, habitantes da Aldeia das Amoreiras, do monte do Gavião em Santa Clara-a-velha e outras) que de alguma forma estejam relacionadas com os Escanchados. Pretendo também explorar as alcunhas dadas às pessoas e aos sítios. Os mitos que existem em volta da aldeia e explorar a sua herança cultural e popular que envolve estes locais alentejanos. Os residentes revelam a autenticidade do seu povo, pois são estes quem tem o dom de ensinar, de explicar e de mostrar aquilo que a vida foi e já não é.
Hoje, mais do que nunca, as histórias humanas precisam ser contadas. Ao explorar-se as memórias dos lugares, essas histórias do sítio em que vivem vêm ao de cima, respeitando a diversidade populacional e cultural que está a repovoar o Alentejo.
Chegou o momento de transformar este movimento "fui atrás" num movimento de comunidade, de nos envolvermos todos de forma a preservar as nossas gentes e o que têm para nos contar. É urgente mostrar às novas gerações as nossas origens e o que devemos guardar connosco das aprendizagens com as gerações mais velhas. É como sempre digo, guardar o que se fazia de bem e melhorar o que era mau. Conectarmo-nos uns com os outros num mundo cada vez mais rápido e impessoal. E por isso venho desta forma pedir o vosso apoio de forma a tornar este meu/nosso/vosso sonho na realidade que gostaria de partilhar com todos vocês.

Monte dos Escanchados
Glossário
Monte - [Regionalismo] Propriedade rural no Alentejo. Conjunto das casas de uma herdade, geralmente numa elevação, onde se situa a moradia e outras dependências.
Cante ao baldão - Era comum ouvir-se o cante de improviso nas feiras, nos mercados e nas tabernas e por vezes acompanhado da popular viola campaniça. O cante de improviso (cante ao baldão e despique), tal como é cantado na região, é praticado apenas no Baixo Alentejo e preservado em escassas zonas serranas.
Viola Campaniça – Instrumento musical de eleição da tradição musical alentejana.
Tiração de cortiça – Extração de cortiça (casca do sobreiro, árvore nacional de Portugal), trata-se de uma prática artesanal e tradicional que requer muita perícia.
Alcunhas - Epíteto, geralmente fundado nalguma particularidade física, moral, de localização, profissional ou social do indivíduo ao qual ele se atribui.

Avô Bernardo numa roda de Cante ao Baldão
Ana Beatriz Jesus
Cante ao Baldão e Mastro de Promessa nos Escanchados
Fui atrás dos mastros de promessa
O meu avô Bernardo havia feito uma promessa: quando houvesse luz elétrica ao monte dos Escanchados, faria um cante ao baldão com os seus amigos companheiros e um mastro a preceito. Infelizmente partiu antes de cumprir essa sua promessa. Passados 25 anos, unimo-nos enquanto família para cumprir essa sua promessa.
O processo de preparação deste Mastro de Promessa está a ser tão bonito, e por isso também fará parte do documentário: “De quem é esta terra?”. Conforme se vai sabendo do mastro há um burburinho feliz e curioso em volta deste acontecimento. Temos recebido muito apoio e carinho, quer de familiares, quer de amigos, quer da comunidade e entidades da Aldeia das Amoreiras e de São Martinho das Amoreiras.
Dia 11 de julho haverá também na Rádio Castrense (93 FM), o programa Património, dedicado ao meu avô: António José Bernardo, onde haverá tocadores de viola campaniça e cantadores de Baldão, familiares e amigos do avô e irá falar-se também da tradição dos mastros e aproveitar-se para divulgar a festa.
Quem tiver interesse neste acontecimento, está convidado a ir ter connosco até àquele altinho tão especial para nós: os Escanchados.
Obrigada mais uma vez por todo o vosso apoio!
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Ana Beatriz Jesus
Agradecimento
Temos boas notícias, graças ao apoio e partilha de todos vocês, estamos neste momento com 33% do valor angariado. Mas nesta campanha só receberemos o dinheiro caso se consiga angariar a totalidade do valor da campanha. Por isso, obrigada pelo vosso carinho até agora, por acreditarem e darem força a este sonho, mas temos de continuar a caminhar!
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