Crowdpublishing: o futuro dos livros

29
Nov
2018

Alexandre Coutinho, jornalista e editor:

Sou cofundador da Contra a Corrente, a primeira editora criada em Portugal com um modelo de crowdpublishing. O que nos levou a criar a editora com este modelo? Em meados de 2010, cerca de um ano antes da criação da Contra a Corrente, estive envolvido na edição de um livro de autor que não encontrava uma editora interessada em publicá-lo… ocorreu-nos então dirigirmo-nos directamente aos leitores, às empresas e às instituições, que financiaram o livro, tendo como contrapartida a colocação dos seus nomes, logotipos e marcas na contracapa e o valor do patrocínio convertido em exemplares do livro. O sucesso deste modelo seria replicado a partir de 2011, em mais de duas dezenas de edições lançadas até à data.

Embora rodeados por muitos anúncios de programas de apoio ao investimento (Portugal 2020, fundos comunitários), a realidade que se depara aos empreendedores nacionais é de uma enorme complexidade burocrática, inevitável recurso a fundos de tesouraria para superar os atrasos do Estado (com os inerentes encargos financeiros) e crédito a um custo inacessível por parte das instituições de crédito. As melhores soluções de financiamento passam pela mobilização de investidores directos, business angels, crowdfunding ou fundos privados de incubadoras ou de universidades, para o lançamento de start-ups.

Criado nos Estados Unidos, o crowdpublishing chegou recentemente à Europa, onde é mais usado por autores independentes e por editoras de nicho, especializadas em livros de grande qualidade e de tiragens limitadas. Com o apoio de uma plataforma de crowdfunding – por exemplo, o PPL – é possível apresentar um projecto a uma vasta comunidade de potenciais leitores interessados em adquirir o livro a um preço mais vantajoso, contribuindo com montantes que podem variar entre €1 e €200, por exemplo, e recebendo em troca as mais diversas recompensas: livros numerados com assinatura dos autores; convites para as sessões de lançamento; conversas com os autores; e, claro, uma menção na página dos Agradecimentos. Poesia, contos para crianças, livros sobre causas sociais e ambientais, e livros de história, são os que mais recorrem ao crowdpublishing.

Actualmente, os editores deparam-se com uma escassez de financiamento no mercado para obras independentes, a par de uma rede deficiente de distribuição e de um circuito obsoleto de livrarias. Por isso, mais de dois terços dos livros editados pela Contra a Corrente são comercializados directamente aos leitores e enviados por correio, à cobrança ou após pagamento por transferência bancária. No futuro, por força da crescente digitalização e consequente diminuição da procura pela imprensa escrita, os livros tornar-se-ão obras de prestígio, com tiragens limitadas e exclusivas, previamente encomendadas pelos leitores. No limite, o livro alcançará o estatuto de “obra de arte” – algumas experiências pioneiras foram muito bem sucedidas com livros de fotografia em grande formato – com tiragens de 100 ou 200 exemplares numerados e assinados pelo autor. Já imaginou receber o seu livro directamente das mãos do seu autor de referência, num encontro ou jantar privado?